sexta-feira, 24 de abril de 2015

4° Dia - Vale das Rocas, Árvore de Pedra e Lagunas


Cinco horas da madrugada do dia 04 de Janeiro, todos de pé, mochila arrumada, tomamos nosso café da manhã nos despedimos de todos e esperamos por Willi para mais um dia no deserto. Tiramos algumas fotos à frente de nossa hospedagem onde o sol surgia detrás de um rochedo enquanto ao longe víamos vários  automóveis seguindo pelo salar.

A ansiedade era grande e queríamos matar nosso motorista que demorava muito. Ganhamos a estrada por um bom tempo, pedimos ao guia para colocar nossas músicas pois a dele já estava dando sono na gente, suas canções eram aqueles sons andinos de flautas de bambu. Na paisagem observamos muita alpacas e vicunhas e dentro de poucas horas chegamos ao vilarejo de San Juan. Foi uma parada até rápida, onde encontramos uns brazucas do Paraná e tiramos uma foto com a bandeira brasileira, contamos experiências até ali e roteiros futuros de cada um. Tiramos também algumas fotos em uns belos cactos e enfim comprei a bendita manteiga de cacau. Nossos lábios estavam "destruídos"! Mais uma garrafa de wisky "Daboubí" foi adquirida, conversamos com o bicho grilo Leonardo e descobrimos que ele fez o mesmo trajeto que nós, porém de ônibus, de Sta Cruz de la Sierra a Sucre. Ele dispunha de mais tempo e retornaria da fronteira com o Chile, seguindo para La Paz. Seu objetivo era ver a posse do presidente boliviano Evo Morales que seria no dia 22 de Janeiro de 2015.
San Juan- Vilarejo
Poeira, muita poeira, música, contos e chegamos a uma fronteira com o Chile que não seria ainda a definitiva. Mas a paisagem era excepcional além de uns trens de madeira abandonados que davam aquela pinta de velho oeste de filme americano onde tiramos diversas fotos, avistávamos um vulcão que em sua borda lateral e não centro, expele uma fumaça (segundo Willi desde 1978  sai enxofre dali). Seguimos em direção a ele ao som de Zezé di Camargo e Luciano (eles adoram nosso sertanejo, seja ele brega ou universitário), cantarolamos gravamos vídeos, e minutos depois estávamos no Vale das Rocas, também chamado Vale de la Luna por sua semelhança com as crateras lunares. E tome foto! Sem palavras pra definir quão belas são aquelas formações geológicas esculpidas pelo vento durante milhares de anos. O tempo passou rápido e a hora do almoço se aproximara, após meia hora ali, seguimos para uma local com outras lindas rochas e uma laguna onde seria a parada para o almoço. Enquanto tirávamos fotos  os guias dos três carros preparavam o rango. A paisagem novamente era exuberante, contrastava o céu azul refletindo na laguna, as rochas com um tom avermelhado e em meio a elas havia uma, forrada de musgos com um verde vivo bem marcante. Nos encontramos com as peruanas pela última vez, por algum motivo elas retornariam dali. 
Fotografamos nossos pratos e Wilton observou algo que marcaria e renderia a principal história da viagem. Os motoristas estavam enchendo a cara de bebida. O nosso era o mais cauteloso eu diria, só deu uma bicada e não gostou. Começava ali uma série de visitas a lagos e lagunas. Perdi as contas, mas foram muitas e obviamente nos fartamos nos registros fotográficos. Laguna Blanca, Laguna das Ondas, Laguna Cinza, a que me interessava era a Laguna Vermelha que ficou para o fim do dia. 

Laguna Vermelha
Nos outros carros estavam muitos gringos e uns poucos brasileiros quando nos dirigíamos para a Laguna Blanca houve um tumulto. Paramos e uma alemã assustada e chorando veio até nós. Dizia que o motorista de nome Javier havia dormido ao volante, saído da estrada, quase tombado a Toyota e eles não queriam mais ir com ele. Após muita discussão, um turista português que namorava uma brasileira de São Paulo-SP, assumiu o volante. Restava ainda o motorista do outro carro que não me lembro o nome, mas o apelidamos de "Cara Torta". Ele assumiu nosso carro por uns poucos minutos e Willi o dele por ter mais experiência. Com pouquíssimo tempo ao volante o Cara Torta saiu da estrada bem de leve, nada comparável ao que houvera acontecido no outro carro. Foi o bastante para o pessoal se revoltar, Marcela mandou um xingamento em italiano (ela queria xingar em español) quase agrediu o motorista. Eu estava na janela e embora tenha visto a barbeiragem não achei tão grave assim, mas o pessoal tava assutado e com razão. Alí descobrimos que no nosso pacote estava escrito nas letras miúdas do contrato, "com emoção". Na verdade foi com perrengue, pois ainda teríamos mais indisposições. Foi ruim? Longe disso, essas coisas acontecem e sabemos que nada está tão ruim que não possa piorar, segundo a Lei de Murphy. Marcela pedia pra eu não falar isso, mas em 2013 eu tive infecção intestinal, tomei 2 litros de soro num posto médico em Machu Picchu e ainda me cobraram 210 soles peruanos (cerca de R$200 que ficou por 60 reais). Sim, poderia piorar.  

Foi quando Willi nos disse que para entrar na Reserva  da Fauna Andina teríamos que pagar 150 Bol$ (uns 70 reais). Estava criado ali o pior clima da viagem. A tia da agência que nos vendeu o pacote com 3 dias, nos omitiu essa informação (outros grupos nos disseram que foram informados desse valor) e nos negamos num primeiro momento a pagar, não era o ideal voltar dali, só restou a alternativa de pagar, a muito contra gosto é claro. Assinamos uns papéis, mostramos nossos documentos e recebemos um ticket da Reserva Nacional da Fauna Andina. Aquele local era certo de fazer a dancinha, ir lá na sua margem ver os flamingos rosados, ninguém quis, o clima estava tenso. Sabendo da importância e beleza do local eu mais uns poucos tiramos algumas fotos. Seguimos então para a Árvore de Pedra que localiza-se no deserto de Siloli. Amigos nem a neve que pegamos no dia seguinte foi tão frio e doído quanto ali. Estávamos sem Soroche para a altitude, mascar folha de coca pouco resolvia e muitos sentiam os efeitos da altitude. Dos três veículos, somente nós descemos para fazer a dancinha e outros dois do outro carro. O vento ali era muito frio e forte, nossas roupas não eram apropriadas (ali tem que estar usando um bom "corta vento" de tactel), por outro lado aquela rocha é gigantesca e marcante, mereciam todas as fotos possíveis. Gravamos a dancinha com a ajuda de um russo muito gente boa e chegamos exauridos, acabados dentro do carro. A pele doía, a minha cabeça parecia querer explodir, Weberti estava branco (tomem o Soroche não se esqueçam!), foi punk mas superamos, alguns minutos depois melhorei. A noite já estava se aproximando, a temperatura caiu absurdamente e viria a saga por buscas de locais para dormir. Com muito custo, encontramos um local, e acreditem, só haviam 6 camas para 12 pessoas,  mais discussão... Outro momento tenso, fiquei nervoso, discuti com Marcela que com razão afirmava que havíamos pago e não deveríamos passar por aquilo. Eu tentava fazer a política da boa vizinhança, acalmar a situação até que estourei. Peguei o dinheiro referente a hospedagem e dei a ela, num sinal de que se o problema era a grana, ela estava reembolsada. Não resolveria discutir ali, só pioraria a situação, ela não aceitou falou que dinheiro não estava em questão. Foi tenso gente. Os ânimos foram se acalmando e concordamos em dormir 2 pessoas em uma cama de solteiro. Só foi possível esse acordo porque o brasileiro é muito maleável, os bolivianos sabendo disso aproveitaram-se de nossa nobreza, teve uma paulista que quebrou o pau e não aceitou a situação, dormindo sozinha numa cama em outro quarto, alegando não ter dormido direito na noite anterior por conta de uns brasileiros que ficaram até tarde de papo, música e etc, atrapalhando o sono alheio. Imagine um quarto com 6 camas mais as mochilas e 12 pessoas. Foram muitas piadas sobre a situação mas não teve outro jeito.

Wilton desmaiou de sono e cansaço e não quis saber de janta, novamente não rolou banho... O frio era congelante. Jantamos, contamos histórias e conhecemos um italiano e uma espanhola foi um papo bem agradável. Muita gente dormiu cedo, antes das 23:00h. Estava muito, muito frio. Terminava ali mais um dia, o mais tenso de todos. Seria a história mais contada sempre que alguém falava em perrengue.  Mas muita coisa boa estava por vir.
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Árvore de Pedra



Laguna Vermelha








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